domingo, 12 de fevereiro de 2017

Nobody Plays #48 - Heart of Darkness


Em 1991, depois de passar 2 anos desenvolvendo praticamente sozinho uma pequena ideia baseada em gráficos vetoriais e focada em narrativa, o francês Eric Chahi entregou Another World, um jogo considerado revolucionário que influenciou na época jogadores que iriam no futuro se tornar alguns dos maiores diretores da indústria atual, como Fumito Ueda, Suda 51 e Hideo Kojima.

Another World, que foi inicialmente lançado para o computador Amiga, seria portado para vários sistemas, incluindo SNES e Mega Drive (renomeado para out of this Wolrd), teira alguns clones, como Flashback (da mesma distribuidora) e também uma continuação, chamada Heart of the Alien. Nenhum desses produtos teve o envolvimento de Eric Chahi, que em 1992 começou a trabalhar em um sucessor espiritual de Another World, que levaria ainda mais longe o seu conceito de narrativas interativas.

Dessa vez trabalhando com um estúdio grande, Eric queria fazer um projeto muito mais ambicioso que o seu último joguinho artesanal, mas com isso vieram as cobranças da distribuidora, que exigia que o jogo fosse lançado na principal plataforma dá época, e não apenas para computadores. Essa exigência feita em uma época de transição de geração e de novos consoles fracassados, faria Heart of the Darkness levar 6 anos para finalmente chegar ao mercado.


Inicialmente ele iria ser lançado para 3DO, console lançado em 1993, o único disponível no mercado que seria capaz de suportar o que eles estavam criando. O 3DO rapidamente mostrou-se um fracasso de vendas sendo descontinuado em 1996.

A alternativa foi então fazer uma parceria com a Sega, para lançar o jogo como um exclusivo para Saturn. Mas, assim como o 3DO, o Saturn não foi um console bem sucedido, e rapidamente seria substituído pelo Dreamcast em 1998.

Ele só iria encontrar sua plataforma definitiva no console novato da Sony, e foi lançado em julho de 1998 para PlayStation (e também para PC).


Heart of Darkness também é o nome do famoso livro de 1899 escrito por Joseph Conrad, que foi a fonte de inspiração para obras como o filme Apocalypse Now e o jogo Spec Ops The Line. E sabem qual é a relação desse jogo com essa obra sombria sobre guerra e loucura? Nenhuma. O jogo Heart of Darkness é uma história infantil onde um menino tem o cachorro sequestrado por um eclipse (?) e vai com sua nave espacial criada em casa para o planeta (ou dimensão ou sei lá o que) que pra onde levaram o cachorro dele.

Ele é realmente um um sucessor do que foi feito em Another World, só que em vez de usar gráficos vetoriais, usa gráficos pré renderizados, que eram uma novidade quando começou o desenvolvimento,mas em 1998 já eram comuns.

Esse é mais um jogo com movimentação inspirada em Prince of Persia, o que significa que os controles, com a intenção de serem realistas, são extremamente imprecisos, e é normal o jogador morrer devido a uma ação descuidada.

Vários dos cenários são puzzles, que podem envolver quebrar alguma parte ou objeto para poder avançar, mas em certas partes falta alguma dica no cenário e é muito difícil entender o que é para ser feito.

Em uma parte específica do começo do jogo, é necessário atirar em uma parede para liberar o caminho, mesmo sem o jogo ter dado nenhuma informação anterior de que partes fixas do cenário podiam ser afetadas pela sua arma. Em outro momento é necessário pular para destruir a plataforma em que o jogador está, essa é a única vez no jogo inteiro em que o seu pulo interage com o cenário.

O combate em si é bem legal, tanto com a arma de eletricidade do garoto, quanto com os poderes mágicos que ele adquire no meio. O garoto é bem ágil e pode atirar para todas as direções com a arma de choque. Os poderes mágicos não são tão rápidos ou poderosos quanto a arma, mas não chegam a atrapalhar.

Os inimigos aparecem em uma quantidade muito grande. Eles desviam de seus tiros e te atacam de forma muito inteligente, algo raro na época. Alguns chegam a ser irritantes, como as aranhas que desviam de forma muito rápida ou uns soldados que aparecem no final, que ao serem derrotados, podem se multiplicar se seus restos não forem destruídos.



Assim como em Another World, não há contador de vidas aqui e no início existem muitos checkpoints. Mas conforme o tempo vai passando, os desafios vão aumentando e os checkpoints mais escassos, chegando em um nível que beira o impossível. Acabei usando save states no emulador para conseguir terminar ele, não acho que seja impossível terminar sem trapaças, mas em sua forma pura, ele é um jogo extremamente frustrante.

A história de desenvolve de maneira legal, bem no clima de um desenho animado dos anos 90, portanto não espere nenhuma profundidade ou temas subjetivos, é apenas uma aventura descompromissada. Se você se incomoda com personagens ao estilo do Jar Jar Binks, prepare-se, pois há uma tribo cheia deles.

Mas apesar do clima infantil, as animações de morte do protagonista são brutais, durante a aventura, você vai ver o garotinho sendo mastigado, esmagado e cortado das mais variadas formas. É impressionante que esse jogo tenha levado a classificação indicativa mais baixa possível quando saiu.

Durante a aventura, o jogador passa por cenários muito variados, como deserto, cavernas, florestas e até partes subaquáticas, todos com um visual bem único e criativo.

Ele consegue ser bem variado na jogabilidade, sempre dando ao jogador novos tipos de desafios. Logo no início, um monstro come sua arma de eletricidade super poderosa, e depois de muito tempo, quando você já esqueceu que tinha usado ela e estava acostumado com outras habilidades, acontece uma reviravolta, onde você recupera sua arma, que vai ser bem útil nos desafios finais do jogo.

Levei cerca de 5 horas pra terminar ele. Ao editar meu gameplay, cortando todas as repetições, descobri que o jogo tem 2 horas de conteúdo. É um jogo muito grande se comparado a outros do mesmo estilo da época.

Heart of Darkness é um bom jogo, apesar da dificuldade extrema. É uma jornada singela pela imaginação infantil, tema que é raramente explorado nos dias de hoje. Jogando no emulador de Playstation com a ajuda do save state, é possível curtir melhor esse jogo, sem se frustrar com o desafio e com a estrutura de tentativa e erro dele.

Se você gosta de experiências como as de Limbo e Inside, jogar Heart of Darkness é uma boa forma de ver de onde vieram as inspirações para esses sucessos modernos.

Um comentário:

  1. Muito legal a matéria, pena que este jogo não foi um sucesso!

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